Fontes: "Jornal O Globo, Eu Atleta e revista Contra Relógio"
Hoje iremos
recordar uma atleta que na minha humilde opinião é a rainha de todas as
corredoras brasileiras. Se hoje temos corridas praticamente todos os finais de
semana de norte a sul deste país tudo isso teve início graças a muita luta e
empenho desta extraordinária guerreira. Morando no EUA por mais de 25 anos ela
é uma ilustre desconhecida pra maioria dos corredores brasileiros, estamos
falando de “Eleonora Mendonça”, essa simpática carioca de Copacabana primeira
brasileira a correr uma maratona olímpica, organizadora do primeiro circuito de
corridas de rua no Brasil e da primeira maratona do país. Ela também deteve o
recorde brasileiro da maratona por oito anos, batendo por quatro vezes seu
próprio recorde, se hoje temos opções de provas praticamente todo final de
semana temos que agradecer a madrinha delas. Nos anos de
1984 e 1985 eu estava começando nas corridas de rua e todas as vezes que eu
ouvia entre os amigos o nome “Eleonora Mendonça” era com sentimentos de
admiração, respeito e até uma certa adoração, ela havia alcançado o status de
um “ídolo” entre os corredores, ainda mais depois de participar de uma
olimpíada, era sonho e desejo de toda mulher que vivia no mundo das corridas de
rua. Gostaria de
deixar claro que nunca tive o prazer de conhece-la pessoalmente a Eleonora,
acredito que nunca corri nenhuma maratona que ela tenha participado e também
não tive o privilégio de ser seu amigo, portanto todas as informações escritas
aqui são partes de entrevistas e depoimentos cedidos pela própria atleta ao “jornal
O Globo, Eu Atleta e revista Contra Relógio”.
O ano era 1972. Eleonora, praticante de esportes desde a infância, estava fazendo mestrado em Educação Física nos Estados Unidos quando o maratonista Frank Shorter venceu a maratona olímpica em Munique, na Alemanha, causando uma comoção positiva entre os americanos.
Empolgada com a energia, a carioca começou a correr. De volta ao Brasil no
mesmo ano, Eleonora virou sócia do Fluminense e corria sempre em volta do
campo, quando recebeu o convite de um técnico para participar de provas de
atletismo. Começou então pelas competições de pista, de 800m, 1.500m e 3.000m
Foto: Arquivo Pessoal
Em 1974,
Eleonora voltou aos Estados Unidos para trabalhar como advogada, em Boston,
onde o movimento de corrida estava muito forte. Em 1976, a atleta realizou o
sonho de muitos e participou da Maratona de Boston, após conseguir índice
debaixo de muita neve na Silver
Lake Marathon, primeira maratona de sua vida.
_"Naquele tempo
corríamos uma maratona a cada dois meses ou pouco mais, era back
to back, como dizem os americanos. Não havia muitas maratonas, então
viajávamos muito; foi um período muito interessante. Nos primeiros cinco, seis
anos, eu fazia de três a quatro maratonas por ano. Devo ter feito umas 50 entre
1976 e 1988, quando corri a minha última. Não foi atoa que fiz artroscopia no
joelho, por isso não recomendo correr tantas maratonas em tão pouco tempo, mas
também não me arrependo. Acho que a turma toda que viveu aquela época tem
ótimas recordações, foi muito gratificante; corríamos por amor ao
esporte".
Chegando na maratona do Rio 1983
NEW BALANCE. Além de atleta,
cartola, editora de revista e organizadora de provas, Eleonora ainda teve uma
passagem como designer de tênis de corrida, ao conhecer o novo dono da New
Balance, Jim Davis, que havia comprado a empresa - originalmente criada em 1906 - no dia da Maratona de Boston de 1972, então
com apenas seis funcionários. "Naquela época também não havia sapatos
próprios para corrida. Lembro que depois de dois ou três anos que eu já estava
competindo comprei meu primeiro sapato de corrida, de uma fábrica ali mesmo em
Boston, de um amigo de um conhecido meu, que estava começando a fazer sapatos
de corrida. O nome dele era Jim Davis, me levaram lá e me apresentaram a ele.
Experimentei e alguns anos depois acabei vindo a trabalhar para eles como
consultora, desenhando sapatos de competição, o que foi muito
interessante".
Pioneirismo na
organização de provas: De olho na São Silvestre, que tinha liberado a
participação feminina em 1975, em homenagem ao Ano Internacional da Mulher,
Eleonora estava de volta em 1977, já com a intenção de começar a organizar
provas por aqui. Foi quando soube que o jornalista americano Yllen Kerr (autor
do livro “Corra para Viver”, de 1979) estava promovendo uma corrida de
veteranos no Rio, no dia 31 de dezembro. Conversaram e tiveram a ideia de
montar uma prova aberta, não só para veteranos, a Corrida de Copacabana, com
percurso de 8 km, no início de 1978. Daí surgiu a Printer, firma especializada
em eventos de corrida de rua. Com as ideias em pleno transbordamento criativo,
Eleonora resolveu chamar os principais atletas estrangeiros que participavam da
São Silvestre para, no domingo seguinte, disputar uma prova de 8 km pela orla
da Zona Sul do Rio. Em janeiro de 1979, nascia a Corrida Internacional
Leblon-Leme, realizada sem interrupções por 15 anos, até 1994. Neste mesmo histórico ano de 79, a Printer realizou a
primeira maratona do Brasil, nomeada de Maratona Internacional do Rio de
Janeiro, e a primeira corrida feita exclusivamente para mulheres, parte do
circuito internacional da Avon, que tinha Kathrine Switzer à frente do departamento esportivo. Além das provas,
Eleonora e Yllen editaram a primeira revista especializada em corrida do país,
“A Corrida”, coroando o pioneirismo da carioca multifacetada. Em 1980, a prova
feminina, realizada em São Paulo, bateu recorde mundial, com cinco mil
participantes.
Olimpíadas de Los Angeles 84
OLIMPÍADAS, O ÁPICE. Em 1984, venceu a Maratona
Bradesco e viveu uma grande batalha com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB),
para ir a Los Angeles. Dona da melhor marca feminina brasileira (2h48m45),
Eleonora conseguiu ser a pioneira do país na maratona olímpica no dia 5 de
agosto de 1984, há exatos 31 anos. Completou a prova em 2h52m19, na 44ª
colocação, além de correr a prova Eleonora teve atuação fundamental para a
própria realização da prova, como presidente do International Runners Committee
(IRC), entidade criada em 1978 e que pressionou o Comitê Olímpico Internacional
(COI) para que a realizasse. "As Olimpíadas foram o momento culminante da
minha carreira atlética, não só pela parte esportiva, mas também pela parte
política. Como o desenvolvimento das corridas de rua entre as mulheres, começou
a haver uma pressão mundial muito forte para que o COI realizasse a maratona feminina
nos Jogos, além das provas de 5.000 m e 10.000 m", recorda.
Foto: Arquivo Passoal
O projeto de Eleonora
é montar um acervo fotográfico dos eventos organizados por sua empresa e criar
um site para contar a história das corridas de rua. Por enquanto, ela mantém
uma página no Facebook, que atualiza periodicamente. Como boa maratonista, sabe
que a pressa não é exatamente a melhor amiga da perfeição.
Foto:Jornal O Globo
Ela continua
dividindo seu tempo entre o Rio de Janeiro e Estados Unidos, continua fazendo
alguns treinos mas apenas como qualidade de vida, sem intenção de voltar as
competições e mesmo quando está no Rio e resolve de última hora participar de
alguma competição é apenas por lazer e descontração, sem marcação de tempo nem
preocupação com colocações.
Esse vídeo abaixo mostra um pouquinho do carisma e simplicidade dessa extraordinária mulher e atleta que tanto lutou e contribuiu para o esporte brasileiro e mundial.
UMA INSPIRAÇÃO, UM EXEMPLO A SER SEGUIDO, PARABÉNS
ResponderExcluirRealmente José Carlos, ela foi a inspiração de muitas atletas por esse país a fora.
ExcluirMuito legal o reconhecimento Adelmo. Show
ResponderExcluirMuito obrigado Jorge, quando publiquei isso sobre ela foi uma surpresa e muito legal pra mim. Eu conversei com ela e pedi autorização, ela foi super atenciosa e muito gentil também, uma mulher formidável. Fiquei mais fã ainda.
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