21 de fevereiro de 2016

ELEONORA MENDONÇA: Uma Pioneira Incansável

Fontes: "Jornal O Globo, Eu Atleta e revista Contra Relógio" 
Hoje iremos recordar uma atleta que na minha humilde opinião é a rainha de todas as corredoras brasileiras. Se hoje temos corridas praticamente todos os finais de semana de norte a sul deste país tudo isso teve início graças a muita luta e empenho desta extraordinária guerreira. Morando no EUA por mais de 25 anos ela é uma ilustre desconhecida pra maioria dos corredores brasileiros, estamos falando de “Eleonora Mendonça”, essa simpática carioca de Copacabana primeira brasileira a correr uma maratona olímpica, organizadora do primeiro circuito de corridas de rua no Brasil e da primeira maratona do país. Ela também deteve o recorde brasileiro da maratona por oito anos, batendo por quatro vezes seu próprio recorde, se hoje temos opções de provas praticamente todo final de semana temos que agradecer a madrinha delas. Nos anos de 1984 e 1985 eu estava começando nas corridas de rua e todas as vezes que eu ouvia entre os amigos o nome “Eleonora Mendonça” era com sentimentos de admiração, respeito e até uma certa adoração, ela havia alcançado o status de um “ídolo” entre os corredores, ainda mais depois de participar de uma olimpíada, era sonho e desejo de toda mulher que vivia no mundo das corridas de rua. Gostaria de deixar claro que nunca tive o prazer de conhece-la pessoalmente a Eleonora, acredito que nunca corri nenhuma maratona que ela tenha participado e também não tive o privilégio de ser seu amigo, portanto todas as informações escritas aqui são partes de entrevistas e depoimentos cedidos pela própria atleta ao “jornal O Globo, Eu Atleta e revista Contra Relógio”.


O ano era 1972. Eleonora, praticante de esportes desde a infância, estava fazendo mestrado em Educação Física nos Estados Unidos quando o maratonista Frank Shorter venceu a maratona olímpica em Munique, na Alemanha, causando uma comoção positiva entre os americanos. Empolgada com a energia, a carioca começou a correr. De volta ao Brasil no mesmo ano, Eleonora virou sócia do Fluminense e corria sempre em volta do campo, quando recebeu o convite de um técnico para participar de provas de atletismo. Começou então pelas competições de pista, de 800m, 1.500m e 3.000m

Foto: Arquivo Pessoal
Em 1974, Eleonora voltou aos Estados Unidos para trabalhar como advogada, em Boston, onde o movimento de corrida estava muito forte. Em 1976, a atleta realizou o sonho de muitos e participou da Maratona de Boston, após conseguir índice debaixo de muita neve na Silver Lake Marathon, primeira maratona de sua vida.
 _"Naquele tempo corríamos uma maratona a cada dois meses ou pouco mais, era back to back, como dizem os americanos. Não havia muitas maratonas, então viajávamos muito; foi um período muito interessante. Nos primeiros cinco, seis anos, eu fazia de três a quatro maratonas por ano. Devo ter feito umas 50 entre 1976 e 1988, quando corri a minha última. Não foi atoa que fiz artroscopia no joelho, por isso não recomendo correr tantas maratonas em tão pouco tempo, mas também não me arrependo. Acho que a turma toda que viveu aquela época tem ótimas recordações, foi muito gratificante; corríamos por amor ao esporte".

Chegando na maratona do Rio 1983
NEW BALANCE. Além de atleta, cartola, editora de revista e organizadora de provas, Eleonora ainda teve uma passagem como designer de tênis de corrida, ao conhecer o novo dono da New Balance, Jim Davis, que havia comprado a empresa - originalmente criada em 1906 - no dia da Maratona de Boston de 1972, então com apenas seis funcionários. "Naquela época também não havia sapatos próprios para corrida. Lembro que depois de dois ou três anos que eu já estava competindo comprei meu primeiro sapato de corrida, de uma fábrica ali mesmo em Boston, de um amigo de um conhecido meu, que estava começando a fazer sapatos de corrida. O nome dele era Jim Davis, me levaram lá e me apresentaram a ele. Experimentei e alguns anos depois acabei vindo a trabalhar para eles como consultora, desenhando sapatos de competição, o que foi muito interessante".


Pioneirismo na organização de provas: De olho na São Silvestre, que tinha liberado a participação feminina em 1975, em homenagem ao Ano Internacional da Mulher, Eleonora estava de volta em 1977, já com a intenção de começar a organizar provas por aqui. Foi quando soube que o jornalista americano Yllen Kerr (autor do livro “Corra para Viver”, de 1979) estava promovendo uma corrida de veteranos no Rio, no dia 31 de dezembro. Conversaram e tiveram a ideia de montar uma prova aberta, não só para veteranos, a Corrida de Copacabana, com percurso de 8 km, no início de 1978. Daí surgiu a Printer, firma especializada em eventos de corrida de rua. Com as ideias em pleno transbordamento criativo, Eleonora resolveu chamar os principais atletas estrangeiros que participavam da São Silvestre para, no domingo seguinte, disputar uma prova de 8 km pela orla da Zona Sul do Rio. Em janeiro de 1979, nascia a Corrida Internacional Leblon-Leme, realizada sem interrupções por 15 anos, até 1994.Neste mesmo histórico ano de 79, a Printer realizou a primeira maratona do Brasil, nomeada de Maratona Internacional do Rio de Janeiro, e a primeira corrida feita exclusivamente para mulheres, parte do circuito internacional da Avon, que tinha Kathrine Switzer à frente do departamento esportivo. Além das provas, Eleonora e Yllen editaram a primeira revista especializada em corrida do país, “A Corrida”, coroando o pioneirismo da carioca multifacetada. Em 1980, a prova feminina, realizada em São Paulo, bateu recorde mundial, com cinco mil participantes.

Olimpíadas de Los Angeles 84
OLIMPÍADAS, O ÁPICE. Em 1984, venceu a Maratona Bradesco e viveu uma grande batalha com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), para ir a Los Angeles. Dona da melhor marca feminina brasileira (2h48m45), Eleonora conseguiu ser a pioneira do país na maratona olímpica no dia 5 de agosto de 1984, há exatos 31 anos. Completou a prova em 2h52m19, na 44ª colocação, além de correr a prova Eleonora teve atuação fundamental para a própria realização da prova, como presidente do International Runners Committee (IRC), entidade criada em 1978 e que pressionou o Comitê Olímpico Internacional (COI) para que a realizasse. "As Olimpíadas foram o momento culminante da minha carreira atlética, não só pela parte esportiva, mas também pela parte política. Como o desenvolvimento das corridas de rua entre as mulheres, começou a haver uma pressão mundial muito forte para que o COI realizasse a maratona feminina nos Jogos, além das provas de 5.000 m e 10.000 m", recorda.

Foto: Arquivo Passoal

O projeto de Eleonora é montar um acervo fotográfico dos eventos organizados por sua empresa e criar um site para contar a história das corridas de rua. Por enquanto, ela mantém uma página no Facebook, que atualiza periodicamente. Como boa maratonista, sabe que a pressa não é exatamente a melhor amiga da perfeição.

Foto:Jornal O Globo

Ela continua dividindo seu tempo entre o Rio de Janeiro e Estados Unidos, continua fazendo alguns treinos mas apenas como qualidade de vida, sem intenção de voltar as competições e mesmo quando está no Rio e resolve de última hora participar de alguma competição é apenas por lazer e descontração, sem marcação de tempo nem preocupação com colocações.


 Esse vídeo abaixo mostra um pouquinho do carisma e simplicidade dessa extraordinária mulher e atleta que tanto lutou e contribuiu para o esporte brasileiro e mundial.



4 comentários:

  1. UMA INSPIRAÇÃO, UM EXEMPLO A SER SEGUIDO, PARABÉNS

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente José Carlos, ela foi a inspiração de muitas atletas por esse país a fora.

      Excluir
  2. Muito legal o reconhecimento Adelmo. Show

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado Jorge, quando publiquei isso sobre ela foi uma surpresa e muito legal pra mim. Eu conversei com ela e pedi autorização, ela foi super atenciosa e muito gentil também, uma mulher formidável. Fiquei mais fã ainda.

      Excluir